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A dor que garante direitos: Próteses, benefícios e reparação após um acidente de trabalho

A história do Deivson não começa no acidente de trabalho, começa muito antes. Infância em situação de extrema pobreza, família que trabalhava em lixão, casa de dois cômodos para doze pessoas, acolhimento em instituição para crianças em situação de risco, disciplina rígida, rotina estruturada.

Depois veio o primeiro emprego, a entrada no mercado de trabalho, o esforço para conseguir bolsa integral na faculdade, o sonho de uma vida melhor. Até que, aos 25 anos, um acidente de trabalho com choque em rede de alta tensão interrompe tudo de forma brutal.

Essa história é real. E, ao mesmo tempo em que emociona, ela lembra uma verdade que muita gente só descobre na dor: quem sofre um acidente de trabalho grave não perde apenas a saúde física. Perde renda, autonomia, ritmo de vida, autoestima. E, justamente por isso, não precisa enfrentar esse processo sozinho. Existe direito à reabilitação, à prótese adequada, à indenização compatível com o dano e à reconstrução da vida com dignidade.

Este artigo é um convite para olhar a trajetória do Deivson Lest como espelho e como alerta. Um espelho para quem viveu algo parecido. Um alerta para quem ainda acredita que acidente é “fatalidade” e não enxerga o quanto poderia e deveria ter sido evitado.

Antes do acidente: uma vida inteira de luta

O Deivson cresceu em um cenário que, para muita gente, seria motivo suficiente para desistir: família trabalhando em lixão, moradia improvisada, pobreza extrema.

Depois, aos nove anos, veio o acolhimento em instituição para crianças carentes. Rotina rígida, horários para tudo, convivência com dezenas de crianças em situação de abandono e vulnerabilidade.
Esse ambiente, ao mesmo tempo duro e estruturado, ajudou a formar disciplina, senso de responsabilidade e vontade de buscar algo diferente.

Aos 16 anos, ele sai da instituição, entra no mercado de trabalho como office boy, passa a conhecer a própria cidade entregando cartas, e, com o tempo, migra para a área industrial.
Consegue bolsa integral pelo Enem, inicia a faculdade, constrói família, assume a profissão de montador de estruturas metálicas.

Em resumo, não era alguém acomodado. Era um trabalhador que vinha, há anos, vencendo etapas a partir do próprio esforço.

O dia em que tudo mudou: o acidente de trabalho

No dia 20 de janeiro de 2017, um dia que começou como qualquer outro se torna um divisor de águas.

Na montagem de sacadas em um condomínio, a equipe precisa movimentar um andaime pesado para fixar uma viga metálica. No deslocamento, o equipamento encosta na rede de alta tensão.
O choque é devastador.

O Deivson fica preso na corrente elétrica por quase dois minutos. Queimaduras profundas em 70% do corpo, amputação da perna esquerda, dois meses em coma, infecções graves, múltiplas paradas cardíacas, longa internação e nove meses longe da própria casa em processo de recuperação.

É difícil imaginar o impacto físico e emocional desse cenário em um jovem de 25 anos, que saiu de casa pela manhã acreditando que voltaria do trabalho como em qualquer outro dia qualquer.

E aqui está um ponto importante: acidente de trabalho não é apenas “azar” ou “destino”. Na maior parte das vezes, ele é resultado de uma cadeia de falhas: economia em segurança, falta de treinamento, ausência de supervisão adequada, pressão por produtividade, descuido com encargos básicos.

No caso do Deivson, ele já vinha de uma situação de estresse intenso ao descobrir que a empresa não recolhia corretamente seus direitos trabalhistas mais elementares. Quando uma empresa não cuida nem do básico, é um sinal de alerta de que outros cuidados podem também estar sendo negligenciados.

Sobreviver é só o começo: luto, dependência e depressão

Depois do susto inicial, vem uma fase silenciosa que quase nunca aparece nas matérias de jornal: o luto pela vida que existia antes.

Sair do coma, voltar para casa e perceber que:

  • tarefas simples, como virar na cama ou tomar banho, dependem da ajuda de alguém
  • a imagem no espelho já não é a mesma
  • a rotina de trabalho, antes tão presente, desaparece
  • o papel dentro da família muda

 

Essa soma de perdas costuma trazer uma sensação profunda de inutilidade.
É comum que surjam perguntas do tipo:
“Por que eu estou vivo?”
“Que sentido a minha vida tem agora?”

Não é fraqueza. É uma reação humana diante de algo que muda tudo de forma abrupta.

Por dois anos, o Deivson viveu um quadro de depressão, isolamento e questionamentos.
A virada começa quando ele olha para o filho, para a família e percebe que ainda é necessário, ainda é referência, ainda é herói.

O ponto de inflexão não está em negar a dor, mas em ressignificá-la. É quando a pergunta deixa de ser “por que isso aconteceu comigo?” e passa a ser “o que posso fazer com o que aconteceu?”.

Direitos que sustentam a reabilitação: próteses, órteses e tecnologia assistiva

Nenhuma história de superação acontece apenas na força de vontade. No caso de quem sofre um acidente de trabalho grave, a recuperação depende também de recursos muito concretos: atendimento adequado, reabilitação séria, próteses bem ajustadas, órteses de qualidade e outros dispositivos que fazem parte da chamada tecnologia assistiva.

Prótese não é um acessório. É uma extensão do corpo, que permite retomar movimentos, reduzir dor, recuperar parte da autonomia perdida.

Da mesma forma, órteses, cadeiras de rodas, andadores, bengalas, calçados ortopédicos, aparelhos auditivos, adaptações para banho e locomoção são elementos essenciais de tratamento e reabilitação.

Quando um acidente de trabalho leva à amputação, à limitação funcional ou à perda de mobilidade, a pessoa não “ganha um favor” ao receber uma prótese. Ela exerce um direito ligado à própria dignidade.

Da mesma forma, quem depende de cirurgia complexa, placas, parafusos, materiais específicos ou próteses internas não deve ser surpreendido com cobranças paralelas, nem com a desculpa de que “o material não está incluído”.

Se o procedimento é indicado pela equipe médica e autorizado, o tratamento precisa ser completo.
Não faz sentido autorizar a cirurgia e negar a peça que torna a cirurgia eficaz.

Por isso, em situações em que:

  • a pessoa precisa de prótese e não consegue acesso adequado
  • o plano de saúde cobre a cirurgia, mas tenta cobrar à parte placas, parafusos ou materiais essenciais
  • o procedimento no SUS é adiado indefinidamente por falta de órtese ou prótese
  • o equipamento fornecido é incompatível com a necessidade real
    existe, sim, espaço para buscar ajuda, registrar a negativa e exigir o cumprimento integral do tratamento.

 

Negar a prótese adequada, cobrar à parte o material essencial ou deixar o paciente sem o dispositivo indicado é, na prática, negar parte do próprio tratamento.

Do auxílio à autonomia: dizer “sim” à vida depois do acidente

No meio de toda essa trajetória, é possível reconhecimento do direito a afastamentos previdenciários definitivos ou temporários, de acordo com o grau e duração da incapacidade, próteses, órteses, reabilitação e indenizações, mas para isso é necessário que seja dado o primeiro passo, com orientação adequada, de um profissional que possa direcionar o reconhecimento desses direitos.

A busca e exercício dos direitos não apagam a dor, não devolvem a saúde integra como antes do acidente, mas auxiliam na reconstrução da vida com dignidade.

Foi a partir do primeiro passo que Deivson escreveu inclusive um livro: “Marcas de um milagre”, escrito no próprio ambiente hospitalar.

Sem dúvida essa história é inspiração para busca de direitos e incentivo para transpor barreiras e reconhecer que com o direcionamento certo é possível encontrar felicidade na nova realidade.

O que a história do Deivson ensina para quem sofreu um acidente de trabalho grave

A história do Davidson não é uma receita pronta, mas traz alguns aprendizados importantes:

  1. Você não é culpado por ter sofrido o acidente
    Muitas pessoas sentem vergonha, culpa ou medo de falar sobre o que aconteceu.
    Mas, na maioria dos casos, o acidente está ligado a falhas de segurança, decisões equivocadas de gestão, ausência de prevenção, economia no lugar errado.
  2. Você tem direito a tratamento, reabilitação e tecnologia assistiva adequados
    Próteses de qualidade, órteses funcionais, equipamentos bem ajustados, fisioterapia, acompanhamento psicológico. Nada disso é luxo. Faz parte do mínimo necessário para reconstruir a vida.
  3. Você tem direito a buscar indenização justa
    Quando um acidente destrói parte da capacidade de trabalho, gera dor, limitações e impactos permanentes, existe o direito a reparação. Infelizmente, muitos recebem valores irrisórios após anos de processo. Isso não significa que você não deva buscar uma reparação proporcional ao dano, com orientação técnica adequada.
  4. Você tem direito a ser informado e orientado
    Ninguém é obrigado a conhecer detalhes de benefícios, seguros, cobertura de planos ou responsabilidades entre empresas. Buscar apoio jurídico especializado não é exagero, é cuidado consigo mesmo e com a família.
  5. Você tem direito a reconstruir a própria história
    Trabalho, estudo, novo propósito, empreendedorismo, projetos sociais, palestras, escrita, arte. Nada disso apaga o trauma, mas ressignifica a trajetória.

 

Direitos existem para que a pessoa não precise escolher entre sobreviver e ter dignidade.
A missão, depois do acidente, é justamente fazer com que esses direitos saiam do papel e se tornem cuidado concreto: prótese adequada, tratamento completo, acolhimento emocional, inclusão no mercado de trabalho e possibilidade real de recomeço. E o primeiro passo sempre depende de você.

Conclusão: da dor ao propósito, do acidente ao direito de recomeçar

Um acidente de trabalho grave muda tudo em poucos segundos. Mas ele não precisa definir, para sempre, quem você é.

A história do Deivson mostra um caminho duro, porém possível:

  • reconhecer a dor sem romantizá-la
  • buscar tratamento e reabilitação com todos os recursos disponíveis
  • exigir prótese, órtese e tecnologia assistiva adequadas
  • procurar reparação pelos danos sofridos
  • ressignificar a própria história e colocar essa experiência a serviço de outras pessoas

 

Ninguém deveria ter que escolher entre aceitar uma vida de limitação e depender de um valor mínimo para sempre. Existe direito à reabilitação, à prótese correta, ao tratamento integral, à indenização compatível com o dano e à reconstrução da vida com dignidade.

No Escritório Freitas Rissi e Nunes, olhamos para cada história com esse compromisso: honrar a dor, reconhecer o esforço, dar nome aos direitos envolvidos e buscar caminhos para que acidentes de trabalho não sejam apenas estatísticas, mas pontos de virada em que a pessoa possa, de fato, transformar dor em propósito e vulnerabilidade em força.

Se a sua trajetória ou a de alguém próximo foi marcada por um acidente de trabalho, você não precisa enfrentar esse caminho sozinho, mas precisa dar o primeiro passo.

FAQ

Resumo do artigo

Sim. Sempre que há indicação da equipe de saúde, existe o direito de buscar acesso a próteses, órteses, cadeiras de rodas, andadores e outros dispositivos que façam parte da reabilitação. Esses recursos não são “opcionais”, fazem parte do tratamento.

Em geral, quando o procedimento é autorizado como um todo, os materiais essenciais para sua execução devem estar incluídos. Cobranças paralelas ou negativas injustificadas podem ser questionadas, inclusive com pedido de reembolso se o paciente for obrigado a pagar.

Falta de estrutura ou demora excessiva para fornecimento de prótese, órtese ou material cirúrgico pode ser questionada. A pessoa pode registrar formalmente a situação e buscar apoio jurídico para exigir o acesso ao que foi indicado pela equipe médica.

Sim. A prótese precisa ser compatível com a realidade da pessoa, com o tipo de atividade, com o peso, com a anatomia e com a necessidade de locomoção. Em muitos casos, é possível discutir a necessidade de troca ou adequação da prótese, com base em relatórios técnicos.

Primeiro é importante ver se você está recebendo o tipo de benefício correto e com valor correto. Dependendo do caso, é possível avaliar: complementação de renda por outra via, revisão de benefício, pedido de indenização por danos decorrentes do acidente de trabalho, entre outras estratégias. Cada situação precisa ser analisada individualmente.

O ideal é:

  • pedir relatório detalhado ao médico, explicando a necessidade do dispositivo
  • registrar formalmente o pedido ao plano ou ao serviço responsável
  • guardar qualquer resposta de negativa ou cobrança à parte
  • se precisar comprar o material, guardar a nota fiscal
  • procurar orientação jurídica para avaliar as medidas cabíveis

Infelizmente, acidentes de trabalho com consequências graves, dificuldades de acesso a próteses adequadas, benefícios insuficientes e indenizações abaixo do dano real são mais comuns do que se imagina. Por isso é tão importante falar sobre o tema, orientar trabalhadores e famílias e fortalecer a busca por direitos que já existem, mas nem sempre são respeitados.

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